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The honeymoon is over

Eu tentei fazer esse blog seguir uma linha temporal, mas eu sou muito preguiçosa pra isso. Então o que posso prometer é escrever aleatoriamente o que me vier na cabeça sobre tudo que eu aprendi na Austrália. Ontem eu tive uma aula sobre o choque cultural que você enfrenta quando mora num novo lugar. A moça Iraniana muito sabiamente dividiu as fases de quando você muda pra um novo lugar: a lua de mel (que é quando você acha o novo país lindo, se sente no paraíso, se impressiona com como tudo é novo...), o choque (que é quando você começa a detestar levemente esse novo lugar por conta das mil diferenças e dificuldades que enfrenta) e a recuperação (quando você, com muita paciência e sorte, consegue se adaptar e se integrar a essa nova sociedade sem perder as características da sua nacionalidade). Eu queria ter escrito aqui quando eu sentia exatamente isso que acontece na primeira fase. Mas aqui estou eu, 3 (?) meses depois, descendo na montanha russa do choque. E se você espera um post engraçadinho a la Giulia, é melhor esperar pelo próximo. :)


Hoje, eu precisei ligar pra empresa de eletricidade do apartamento do qual me mudei essa semana pra cancelar o desligamento, já que a limpeza obrigatória do carpete seria feita no dia. E só isso me fez chorar. E eu queria falar que é porque eu não consigo entender inglês direito pelo telefone ou porque já estou atrasada na entrega das chaves pra imobiliária. Ou porque o cara do carpete que ia cancelou de última hora. Mas não foi.

Eu costumo dizer que eu não choro sempre que tenho vontade, e que eu junto tudo pra extravasar de uma vez só. E hoje eu chorei não porque sinto saudades de casa. Nem porque não estou gostando daqui (pelo contrário, sei que essa é a experiência mais fantástica da minha vida) ou porque não tenho uma vida boa ou não fui bem recebida. É porque uma mudança dessas não pode acontecer sem "contras". Eu nunca me senti tão desconfortável. Não que eu não seja feliz aqui - eu sou, e muito.

Quando cheguei aqui, me aproximei das pessoas que são minhas companheiras até hoje - e acho que a gente vê um no outro um suporte, aquela coisa com a qual você mais se familiariza num lugar completamente estranho. Pessoas que na verdade eu nunca tinha visto na vida hoje se comportam como se fossem meus irmãos. E eu aprendi a amar essas pessoas (porque se tem uma coisa que eu faço fácil é ter carinho pelas pessoas que passam a fazer parte do meu cotidiano). Algumas dessas pessoas me decepcionaram. Outras estão sempre ali ao redor, mas não sei se posso confiar. E mesmo as que andam lado a lado comigo compõem, junto dessa situação toda, um quadro de incerteza que é extremamente torturante. A gente finge que não sabe que mais cedo ou mais tarde cada um volta pra sua vida "normal" e que nenhum de nós está disposto a fazer sacrifício NENHUM pra manter firmes os laços que criamos aqui. E, sejamos honestos, a maioria esmagadora de nós não está. O que não significa que esses laços não existam ou que não damos valor a eles. Simplesmente porque o destino nos impõe que a gente deixe ele trabalhar (e a gente permite). Fraqueza? Talvez. Mas não adianta querer exigir que as pessoas lutem contra o quase inevitável.

Tenho preguiça de cultivar amizades com pessoas que não são brasileiras. E tenho medo de cultivar com as que são. Medo de me apegar e depois ter que ir embora. Medo de esperar muito e me decepcionar. Num grupo limitado que é o formado pelas centenas de Brasileiros (que parecem ser bem menos numerosos) que vieram no Ciência sem Fronteiras, já vi mentira, falsidade, safadeza, fofoca, fofoca novamente pra reforçar, inveja, traição. Mas eu vi também suporte, amizade, carinho, romance. É como se a gente vivesse numa novelinha, sabe? Só que eu não curto novela. Não posso dizer que minha vida é melodramática ou algo parecido, mas afirmo com certeza que a realidade é extremamente desconfortável. Isso, graças a Deus não me impede de me permitir ser levada por essa onda. Não me impede de criar novos laços ou de valorizar as pessoas que são minhas amigas aqui, nem de aproveitar os momentos lindos que eu tenho com eles, até porque eu sei que essa experiência é mais do que única (de que adianta voltar aqui um dia se a galera não vai estar?). Mas eu não vejo a hora do meu coração achar isso tudo normal. Não vejo a hora de acordar e dormir me sentindo confortável quanto ao que tenho que fazer e quanto as relações que tenho com as pessoas. Eu sei que isso vai acontecer uma hora ou outra e que tudo isso serve pra me fazer crescer na vida (como pessoa, porque literalmente já desisti HAHA).

Hoje falei que eu só queria minha mãe, sabe? Mas na aula que eu tive, a moça também mencionou que o choque é MUITO, mas MUITO maior quando você volta pra casa. Porque você acha que finalmente vai encontrar o conforto e as situações que tinha antes e que todos vão estar te esperando ansiosos pra ouvir suas histórias. Isso não vai acontecer. Tudo vai estar diferente. Tudo vai ser desconfortável de novo. Mas acho que a vida é feita dessas coisas - de mudanças inevitáveis. Por mais que elas pareçam amargas as vezes, são elas que nos trazem as coisas que nos farão felizes um dia. E por isso eu agradeço. E vou seguindo...